CPV081 - Léo Canhoto & Robertinho
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CPV081 - Léo Canhoto & Robertinho

Em 1969, pra ser mais exato, em 30 de janeiro de 1969, os Beatles subiam juntos pela última vez em um palco para um concerto.

Nesse mesmo ano, nos dias 15, 16 e 17 de agosto, acontecia nos Estados Unidos o Festival de Woodstock, considerado o maior festival de Rock and Roll de todos os tempos.

E em 19 de novembro, ainda de 1969, a Apollo 12 pousa na Lua. Foi a segunda missão do Programa Apollo a pousar na superfície da Lua e a primeira a fazer um pouso de precisão num ponto pré-determinado do satélite, a fim de resgatar partes de uma sonda não tripulada enviada dois anos antes, a Surveyor 3, e trazer partes dela de volta à Terra, para estudos do efeito da permanência lunar sobre o material empregado no artefato.

Mas o que esses acontecimentos têm a ver com o Cachaça, Prosa e Viola?

É que além de tudo isso, no ano de 1969, uma dupla sertaneja, foi visionária e pioneira na utilização de instrumentos eletrônicos , revolucionando para sempre a música sertaneja, e trazendo pra ela elementos do rock e outros estilos musicais, quando, até então, eram usadas apenas a viola caipira e o violão. E ainda em 1969, essa dupla gravou seu primeiro disco, chamado O Homem Mau, que foi o primeiro disco de música sertaneja a ganhar um Disco de Ouro. E sem mais delongas a prosa de hoje é sobre a trajetória da dupla Léo Canhoto & Robertinho.

Léo Canhoto


Leonildo Sachi, o Léo Canhoto, nasceu em Anhumas - SP no dia 27/04/1936, na roça, onde passou fome e viveu muitas dificuldades.


Passou um período com sua família italiana num sítio no município de Sertanópolis - PR onde, até os 18 anos de idade, enfrentou todo tipo de trabalho, inclusive capinar a roça.


Um dia seu pai adoeceu e, Leonildo, para custear o tratamento, resolveu fazer um roçado de algodão ajudado por uma de suas irmãs.


Fez dívida com a compra de equipamentos diversos e inseticidas, porém, não colheu nada, devido a uma chuva inesperada que destruiu toda a plantação, ainda em floração.


Leonildo começou então sua aventura na cidade grande, onde se viu obrigado a tentar a sorte, procurando emprego em circos mambembes, com seu Violão, que havia aprendido a tocar em volta das fogueiras nos diversos sítios onde morou.


Foi batizado artisticamente de Léo Canhoto, pelo fato dele realmente ser canhoto.


Léo Canhoto chegou a participar de algumas duplas, dentre as quais, a mais conhecida, com Maurinho, a dupla Maurinho e Zé Canhoto participou de alguns programas de rádio na Difusora de Londrina - PR e também tentou a sorte na Capital Paulista, tendo gravado um disco, porém, com o nome de Os Canarinhos do Sertão, já que o nome Maurinho e Zé Canhoto não foi aceito.

O sucesso não aconteceu e a dupla logo se desfez.


Com o fim da dupla com Maurinho, Léo Canhoto passou então a fazer parte do trio Campanha, Léo Canhoto e Perigoso, que também não durou muito tempo.


E apesar de não fazer sucesso como artista, nessa mesma época, Léo Canhoto começou a se firmar como compositor.


Em janeiro de 1963, teve sua primeira composição gravada pelo cantor José Augusto, O Engano do Carteiro

E dois meses depois, regravada pela dupla Zico e Zeca.

E nas vozes de Zilo e Zalo, emplacou o sucesso O Milagre do Ladrão

Além disso, era empresário de duplas famosas como Vieira e Vieirinha e Sulino e Marrueiro. Mas na verdade, o que Léo Canhoto queria mesmo era realizar o seu próprio trabalho musical.

 

Robertinho


José Simão Alves, o Robertinho, nasceu em Água Limpa - GO no dia 09/02/1949.


Também enfrentou diversas dificuldades. Aos 13 anos ficou órfão de mãe e foi levado por seu pai, casado novamente, para Buriti Alegre em GO, onde trabalhou na roça e posteriormente foi sapateiro, tintureiro e tratorista.


Desde pequeno gostava de cantar. Muito tímido, no entanto, quando alguém pedia, ele só aceitava cantar se fosse de costas para o público; e, quando acabava a música, saia correndo.


Depois de um desentendimento com seu pai e sua madrasta, José Simão decidiu sair de casa e seguiu para Goiânia, capital de GO para tentar a sorte com a música sertaneja. Lá, em meio às dificuldades que enfrentava, tinha apenas uma calça e duas camisas, além de passar semanas comendo somente arroz com tomate.

 

Léo Canhoto & Robertinho


José Simão, que era fã de Léo Canhoto como compositor, ficou sabendo que este estava em Goiania, hospedado no Hotel J. Alves e, por intermédio do Acordeonista Inhozinho, foi até lá para conhecê-lo.


Léo Canhoto, ao ouvir a história de José Simão e depois de cantarem juntos algumas músicas, decidiram formar a nova dupla.


José Simão não hesitou em se mudar de imediato para a Paulicéia Desvairada onde, de início, morou durante dois anos na casa de Léo Canhoto. E a pertir de então, o menino de 16 anos, fã de Roberto Carlos, foi batizado artisticamente de Robertinho.

Visionários e antenados nos novos estilos musicais da época, a nova dupla estava para iniciar então uma mudança radical e, por que não dizer, uma verdadeira revolução no panorama da Música Sertaneja de um modo geral!


To falando isso, porque Havia, na década de 1960, diversas Duplas Caipiras no auge do sucesso. E Léo Canhoto, experiente que era como Empresário no meio fonográfico, sustentava que a nova dupla que nascia precisava ser diferente de tudo que rolava na época.


E, com seus famosos óculos escuros, Léo falava em reciclar, romper estruturas arcaicas e ampliar o público. E, lógico, as gravadoras, de um modo geral, gostavam de tais idéias, principalmente por aumentar as vendagens...


E foi assim que, no ano de 1969, Léo Canhoto e Robertinho aproveitaram a janela que já havia sido aberta pela Jovem Guarda e mostraram pela primeira vez ao público sertanejo o característico visual que misturava o Sertanejo com o Country Americano, além de misturar também o Violeiro com o Rockeiro.


Algumas Duplas Sertanejas como Tibagi e Miltinho e Belmonte e Amaraí já haviam iniciado uma inovação na Música Caipira, com a inclusão de Orquestras, Trompetes e Guitarras Elétricas nos arranjos, além de terem incluído no repertório ritmos latinos como Boleros, Guarânias e Rancheiras, além dos trajes típicos mexicanos muito usados por Pedro Bento e Zé da Estrada.


No entanto, quem até então imaginaria uma Dupla Sertaneja cabeluda usando óculos escuros, medalhões no peito e vestindo camisas com estampas psicodélicas, abertas até a metade? Sem dúvida, um verdadeiro escândalo, já que Léo Canhoto e Robertinho também gostavam de aparecer com guitarras elétricas, órgãos e contrabaixos e ostentando carrões e motocicletas, em vez de cavalos!


Pois é... Críticas não faltaram e, no famoso Café dos Artistas onde se reuniam os principais artistas sertanejos da época, para fecharem contratos de shows, Léo Canhoto & Robertinho eram chamados de loucos. Seus amigos do mundo sertanejo insistiam para que eles largassem tais inovações e voltassem às origens.


Principais Sucessos da Dupla


Robertinho, ao conhecer Léo Canhoto, contou a ele sua história de vida? Pois é! Essa história se transformou na canção Amarga Despedida e foi um dos destaques do primeiro disco da dupla, lançado em 1969 pela RCA Victor.

Além de Amarga Despedida, O corrido Apartamento 37 também destaque nesse disco.

Ah e só pra vocês entenderem, CORRIDO é o nome do ritmo musical de Apartamento 37.


Fã de filmes de velho-oeste, Léo Canhoto fez questão de trazer esse clima para o disco, gravando o bang-bang Jack o Matador.

Uma curiosidade sobre essa música é que no episódio CPV012 do Cachaça, Prosa & Viola, eu conversei com o ator Jackson Antunes e ele me contou que adotou Jackson como nome artístico, depois de ver Léo Canhoto e Robertinho interpretando Jack o Matador no picadeiro de um circo em sua cidade. Uma verdadeira mistura de Rádio-Teatro com Country Americano e Sertanejo Brasileiro.


E não para por aí. O sucesso com as vendas desse primeiro disco, rendeu a eles, o primeiro disco de ouro da história a música sertaneja.


Encontramos os elementos do rock da época, em interpretações de sucessos tais como A Colina do Amor

O Presidente e o Lavrador

E pela beleza dessa música, Léo Canhoto e Robertinho receberam o Brasão Da República. Uma homenagem prestada pelo então Presidente Ernesto Geisel em 1976.

E em 1979 a música Motorista de Caminhão fez parte da trilha sonora da primeira versão da Série Carga Pesada, protagonizada pelos parceiros de estrada Pedro e Bino, interpretados por Antônio Fagundes e Stenio Garcia. Quem é que não conhece o bordão:


É UMA SILADA BINO!

Léo Canhoto e Robertinho também pagaram o preço do pioneirismo, já que nos seus shows em circos de cidades interioranas as instalações elétricas muitas vezes eram precárias e ocorriam panes com muita freqüência, fazendo com que eles tivessem que esquecer a guitarra elétrica e pegar o Violão e a Viola e soltar a voz tal qual Tonico e Tinoco no início da carreira na beira da tuia, mas isso só comprova que eles, apesar das inovações adotadas, eram CAIPIRAS de fato!


Prova disso é que mesmo inovando na instrumentação musical, as letras eram carregadas de sentimento pelo homem simples da roça.


Soldado sem farda


E ainda sentimos o Sabor Caipira Raiz ouvindo sucessos tais como:


Vou Tomá Um Pingão


A Gaivota


A Garça


Inverno Cruel


Meu Velho Pai


Canção do Carreteiro


E não tem como falar de Leo Canhoto e Robertinho, sem falar da canção O ultimo Julgamento.


Nesse trecho de um show, com a dupla Gilberto e Gilmar, Leo Canhoto conta como foi a história da composição dessa música. Assunta aí.

 

O Ultimo Julgamento


E foi com profunda tristeza que no dia 25/07/2020, a Cultura Caipira recebeu a notícia do falecimento do Léo Canhoto, que partiu fora do combinado, aos 84 anos de idade, após ter passado três semanas internado com pneumonia e sofrer três paradas cardíacas.


Léo Canhoto, foi um artista completo. Ator, cantor, compositor, empresário, músico e até desenhista.


Junto com Robertinho, foram 51 anos de carreira com muitos sucessos e canções inesquecíveis e regravadas até hoje, pelas duplas e artistas do sertanejo atual.


Ao longo da carreira, a dupla gravou mais de 30 discos e 2 DVDs. Ao todo foram 272 músicas, destas 241 foram compostas por Léo Canhoto.


Após a morte de Léo Canhoto, Robertinho passou a fazer dupla com Valdir José Domingues, que adotou o nome artístico de Zé Roberto, formando assim a dupla Zé Roberto e Robertinho.


Sem dúvida, A música sertaneja possui muitos ídolos, mas uma coisa é inegável: A música sertaneja pode ser dividida entre Antes e Depois de Léo Canhoto e Robertinho. Eles ganharam a admiração de muitos, mas despertaram o desprezo de alguns artistas que não aceitavam essa evolução e acusavam a dupla de estar acabando com a música sertaneja. Mas o fato é que, nenhuma outra dupla lotava mais shows do que Léo Canhoto e Robertinho, isso porque o público os consagrou!


E pra fechar esse episódio, vou ler um texto de autoria do radialista e pesquisador, Odair Manzano, publicado em seu Facebook no dia do falecimento de Leo Canhoto em sua homenagem. O texto foi elaborado com os títulos das principais composições de Léo Canhoto.


Vamos ao texto:


A partir da madrugada de Sábado, 25 de Julho de 2020, o APARTAMENTO 37 ficou TRISTE CALADO com uma CAMA VAZIA.


Nosso AMIGO FIEL foi encontrar com o seu VELHO PAI e sua MÃEZINHA QUERIDA e chegou à PORTA DO CÉU para um encontro com O HOMEM DA CRUZ e ouvir A PALAVRA do JUÍZO FINAL, sendo submetido ao ÚLTIMO JULGAMENTO.


Num LEITO DE HOSPITAL a MOLA MESTRA da música sertaneja, não portava o PASSAPORTE PARA O AZILO e sim, o passaporte para a última VIAGEM a CAMINHO DA PAZ. Ele seguiu a TRILHA DOS ANIMAIS e foi cantando a CANÇÃO PARA UM MUNDO MELHOR. Para ele foi um BENDITO DIA porque recebeu a DIVINA LUZ. Para nós, uma TRISTEZA pois, foi um GOLPE TRISTE deixando cada fã com o PEITO ESTRAÇALHADO.


Nesse dia a GAIVOTA sobrevoou A PRAIA anunciando que o SOLDADO SEM FARDA que era um SONHADOR aqui neste MUNDO VÉIO SEM PORTEIRA não vai mais TOMAR UM PINGÃO no bar do VALENTÃO DA RUA AURORA. Agora só nos resta dizer: Ficamos SEM VOCÊ. É como se fosse O TOMBO DA ÁRVORE más, você foi rever os BONS AMIGOS e dizer a eles; lá e aqui, SOMOS IGUAIS.


Com sua AMARGA DESPEDIDA, eu que também fui seu IRMÃO DA ROÇA e MOTORISTA DE CAMINHÃO, vou continuar nesse CORRE CORRE da vida, até que um dia estaremos aí juntos recordando a PORTA DO PASSADO e relembrando até aquele dia em que o PALCO CAIU.


Agora CHEGOU SUA VEZ e tão logo chegará também a minha vêz, a vêz da TEREZINHA, da FOFINHA, da CRIOULINHA, da LINDA ESTUDANTE, do DELEGADO LÔBO MAU, do ZÉ FIRMINO, do BUCK SARAMPO, do ROCK BRAVO, do AMAZONAS KID, DO PRESIDENTE E O LAVRADOR.


Ficamos contristados com SUA PARTIDA porém, estamos dizendo: OBRIGADO DEUS por ter nos dado esse presente que durou 84 anos. VÁI COM DEUS nosso AMIGO IRMÃO, Léo Canhoto

(Manzano, Odair, 25 de julho de 2020)


 

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